Fortaleza e a Era do Cinema

Fortaleza e a Era do Cinema
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sábado, 31 de janeiro de 2009

Cinema Italiano e o saudoso amigo José Américo.























O cinema italiano foi, concorrendo com os filmes franceses, a inesgotável fonte de entretenimento e diversão das telas de exibidores ambulantes. A produção de estúdios organizados em Turim, Roma e Milão conta a história do cinema italiano que tem sua presença constante no mercado a partir da incipiente produção de 1905, num crescendo que lhe assegura o prestígio mundial de seus realizadores e intérpretes... Assim ocorreu graças à criatividade dos cineastas da Ambrosio, Rossi , Aquila e Itala - de Turim, Cines - de Roma; Comerio e Milano Films – de Milão...
O interesse pela história do cinema italiano concentrou minha atenção no primeiro momento. Era necessário encontrar fontes documentais desse rico e admirável filão cinematográfico. E a primeira grande ajuda nos foi dada por Walter Alberti, então Vice-presidente da Cineteca Italiana – Milano, quer pela indicação da bibliografia existente como na facilitação da aquisição de algumas excelentes fotos de filmes inaugurais de cinemas de Fortaleza.
Asssim conseguimos obras como”Archivio Del Cinema Italiano – Vol. I Il Cinema Muto”, de Aldo Bernardini, e “Almanaco Del Vinema Muto Italiano”, de Roberto Chiti e outros. Os stills de filmes como “Jockey da Morte” e “Amica”, também foram obtidas pela extrema gentileza do Cav. Walter Alberti.
Foi então que mais uma vez, pelas incríveis proibições que existiam no Brasil para a aquisição de produtos culturais no exterior, tive que recorrer a amigos no Exterior. No caso fui buscar esse apoio no bom amigo José Américo Viana, primo de minha esposa Thelma, radicado nos Estados Unidos por décadas, que realizou de bom grado os pagamentos necessários na Itália. Zé Américo – falecido no ano passado –, foi o amigo solidário desde a minha primeira visita aos Estados, com permanência de dois anos nas Universidades de Georgetown, em Washington DC, e South Dakota. Apoiou-nos também formalmente quando recorremos ao Banco Interamericano em providências do interesse do governo do Ceará. Com ele estivemos inúmeras vezes, em diferentes cidades, como em sua casa em Vienna, Virginia – (foto). Nosso último encontro ocorreu em 2007, quando acompanhado da exemplar esposa Carmen, filho, nora e netos, participou do primeiro encontro da família Viana.
A compra do acervo bibliográfico foi possível em algumas passagens em Roma e Milão, principalmente nesta última, onde descobri a Libreria dello Spettacolo, na via Terragio, que me supriu de todos os títulos imagináveis, sempre com atenção das Srtas. Laura Bozzi e Cristina Spifaglia, como a coleção completa das obras de Vittorio Martinelli, “Il Cinema Muto Italiano”, excepcional trabalho editado como números especiais de “Bianco e Nero”.
Milão tem um atrativo especial para o cinéfilo – o Museo Del Cinema (Palazzo Dugnani) -, visita obrigatória, onde recebi cordial acolhida do curador Gianni Comencini e sua filha, e conheci a admirável coleção da Cineteca Italiana – Archivio Storico del Film, comemorativa dos quarenta anos de sua fundação.
Até uma próxima visita, quando tentarei localizar mais algumas obras essenciais, continuo dia a dia aperfeiçoando os registros de memória do cinema mudo italiano no Brasil, dos filmes pioneiros que seduziram pelo talento dos seus cineastas e a beleza de suas divas.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Cinema Dinamarquês e o amigo Allan Andersson.











Na pesquisa dos primórdios da exibição de cinema em Fortaleza um dos achados foi a descoberta da forte presença dos filmes realizado em Copenhague, pela Nordisk Film Kompagni. Seus artistas, com destaque para Asta Nielsen e Valdemar Psilander, eram populares e queridos do público brasileiro.
Não encontrando fontes nacionais que ajudassem a identificar o grande número de filmes dinamarqueses, escrevi para o Det Damske Filmuseum e mereci a atenção do diretor Ib Monty, que me indicou caminhos para aquisição do material desejado.
O primeiro passo foi adquirir os 5 volumes do “Registrat over dansk film 1896-1930”, de Marguerite Engberg (foto). A operação não seria difícil porque respondeu-me logo Lars Mandøe, da Arnold Busck Antikvariat, não fossem as grandes limitações impostas aos brasileiros nos anos iniciais da década de 90. A Internet ainda não era disponível, não havia ainda no Brasil o cartão de crédito internacional, era proibido a aquisição de produtos no exterior salvo com licenças de importação...
E como pagar as 1.200 Kroner, mil e duzentas coroas dinamarquesas para adquirir os livros? Descobri então que na Universidade Federal do Ceará encontrava-se um médico dinamarquês que retornaria ao seu país no dia seguinte. Na mesma noite, localizei-o preparando as bagagens, e expus porque precisava comprar os livros solicitando-lhe levar os dólares correspondentes. Foi esse o primeiro contato com o jovem médico Allan Andersson, que se dispôs a fazer essa gentileza a um estranho...
No ano seguinte, em viagem com minha esposa Thelma e filha Cristina, visitando Copenhague pela primeira vez, localizei Allan por telefone. Prontamente, ele foi ao nosso hotel (momento da foto ao meu lado), e redobrou as gentilezas. Sabendo que tinha uma luxação no pé direito, foi a uma farmácia e providenciou um atendimento de urgência, prestado por ele mesmo. Enfaixou o pé, dando-me a orientação de como agir até o retorno ao Brasil. Num gesto de extrema cordialidade, alterou sua rotina para levar-nos a um roteiro turístico pela bela capital dinamarquesa. Fomos ver a Pequena Sereia - icone da cidade, percorremos o dinâmico centro em torno da Radhuspladsen (Praça da Prefeitura), visitamos o Castelo Rosenborg – construído por Christian IV - com exposição das jóias da coroa real, enfim a beleza e a diversão do Tivoli Park... Um dia inesquecível. Ao amigo dinamarquês Allan Andersson o nosso agradecimento.
Mas, a aventura dinamarquesa não termina por aí. Tempos depois solicitamos de Ib Monty selecionadas fotos de filmes da Nordisk que inauguraram cinemas em Fortaleza. Fomos prontamente atendidos, mas tínhamos 550 kroners a pagar. Buscamos o setor de câmbio do Banespa que nos orientou contato direto com o Banco Central, porque fotografias estavam classificadas como produto sujeito a licença de importação. Mais preocupações de como pagar as fotos. A ajuda veio através do companheiro do Conselho Estadual de Cultural, médico e escritor Vinícius Barros Leal, que facilitou contato com o procurador do Banco Central, de quem recebi todo apoio. Acompanhado por ele providenciamos a transferência de pagamento (boleto na foto), tendo assinado no verso: “Declaro, sob as penas da lei, que a remessa de que trata o presente boleto destina-se a pagamento de pequenas despesas com fotografia, assumindo total responsabilidade quanto à legitimidade da operação... “
Sacrifícios que valeram pelos bons resultados, como pela descoberta de novos amigos.
E com a compra de mais alguns livros e um bom dicionário Dinamarquês-Inglês e muito trabalho, conseguimos o nosso objetivo. O catálogo completo dos admiráveis filmes da Nordisk – com seus títulos originais e ficha técnica – exibidos no Brasil. Uma futura contribuição à memória do cinema...

sábado, 10 de janeiro de 2009

Lembrando Tübingen e Till Gronemeyer.











Quando Till Gronemeyer, amigo de minha filha Cristina, planejou vir ao Brasil, pedi a ela que perguntasse se poderia conseguir uma boa história do cinema alemão, que abordasse o cinema mudo e sonoro, a exemplo da famosa obra do Dr. Oskar Kalbus... Grande surpresa. Ao chegar em nosso apartamento retirou da mala os dois famosos volumes do Dr. Kalbus, em alemão gótico, com 400 fotos coladas a mão... Contou-nos que após procurar o livro, sem sucesso, resolveu por um anúncio em jornal. Recebeu afinal um telefonema de uma senhora que dizia ter seu marido falecido e deixara essa obra em sua biblioteca. Viajou até lá e convenceu-a a fazer negócio. Depois dessa proeza bem sucedida, todas as outras ligações para o Till eram de pessoas também interessadas no livro perguntando se ele tinha encontrado a rara obra sobre o cinema alemão...
Trazia-me assim a obra perfeita, completa em todas as suas fotos, uma preciosidade. “Vom Werdem deutscher Filmkunst”, foi editado em 1935, sendo o 1º volume – Der Stumme Film – (cuja capa reproduzimos no blog) e o 2º - Der Tonfilm, a mais famosa história ilustrada publicada sobre o cinema alemão...
Till percorreu conosco a cidade, buscou resposta a muitas questões que lhe foram despertadas, regressando a seu país com novos planos. Trocou o curso de Medicina pelos estudos de Letras e Retórica. Fomos encontrá-lo em Tübingen, uma histórica cidade às margens do rio Neckar, onde cursava a famosa Universidade, fundada em 1477, que se integra naturalmente nessa comunidade dedicada aos livros. Um encontro feliz em que Till mais uma vez mais revelou sua gentileza, acompanhando-nos em viagem de trem até Colônia, e embarcando-nos para Berlim...
Tempos depois, no nosso último encontro com Till, marcado para um sábado em Munique, passamos um dia agradável e de grande proveito. Fizemos uma caminhada do Ibis Hotel ao Antiquariat Schmitt, onde na véspera eu adquirira ao editor Christoph Winterberg a valiosa obra de Herbert Birett, “Das Filmangebot in Deutschland 1895-1911” e uma edição em grande formato, de 856 páginas, do “Deutscher Spielfilm Almanach 1929-1950” do Dr. Alfred Bauer, e que deveria ter 25 páginas restauradas até o dia seguinte. Chegamos cedo pela manhã, na Luisenstrasse, quando o Sr. Winterberg, na hora marcada, trouxe o volume recuperado. Cumpriu rigorosamente sua palavra.
O sábado ensolarado permitiu-nos uma caminhada pelo antigo Botanik Garten e pelos jardins do centro onde centenas de nudistas deliciavam-se sob o sol restaurador...
Não podemos esquecer a fraternal acolhida de Till Gronemeyer que nas fotos, em dois momentos, aparece com minha filha Cristina no trem de Tübingen para Colônia, e em nossa despedida na Hauptbanhof de Munique quando regressava à sua bela e inesquecível Tübingen que também lembro em foto..




"Zico" em uniforme do Flamengo...


Como prometi eis a foto da gatinha "Zico" recebida do amigo Pflügl. Está anotado no verso: Zico in Flamengo dress.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Os amigos Barbara e Helmut Pflügl.











Ao iniciar as pesquisas sobre o cinema austríaco fiz uma carta ao Österreichisches Filmarchiv, em Viena. Qual não foi minha surpresa quando recebi uma gentil resposta assinada por Helmut Pflügl que gentilmente oferecia apoio e revelava a sua grande paixão pelo futebol brasileiro. A partir daí começou um franco intercâmbio e uma sincera amizade. Nosso primeiro encontro ocorreu em 1991, em viagem que fiz com minha esposa Thelma e a filha Cristina – agora residindo em Albuquerque (New Mexico) e que nos dá notícias pelo seu blog – Coluna da Milk.
Esse encontro ganhou um significado pessoal porque iríamos conhecer Helmut e sua amável esposa Barbara, bem como a gatinha da família que tem o honroso nome de – Zico. E mais ainda, porque a convite do casal Barbara e Helmut Pflügl iríamos assistir na noite de 4 de junho de 1991, na sede central do Österreichisches Filmarchiv, em Viena, uma exibição festiva do filme “Die Ahnfrau” (1919), de Louise Kolm e Jakob Fleick, com Liane Haid e Max Neufeld, cuja última cópia, descoberta em São Paulo, após restaurada, era levada a reduzido público, numa primeira sessão em que constava palestra do dr.Walter Fritz, e alguns documentários de 1917 e 1918. A ilustração musical pelo pianista Prof. Björn Maseng foi para nós a descoberta de quanto era importante o papel dos criativos músicos de cinema na fase fascinante da cena muda, contribuindo para despertar a emoção do público na sala escura dos primitivos salões de exibição.

Outras vezes estivemos em Viena, realizando pesquisas nos arquivos austríacos do cinema, sempre com o apoio de Helmut e Barbara, que nos oferecia a oportunidade de bons momentos de convívio. Sua gentileza extrema é sempre lembrada quando, em 1993, transitei por Viena, com minha filha Thais e as netas Tatiana e Natália, rumo a Belgrado, então sob as limitações do embargo internacional, hiperinflação e os sofrimentos da guerra na Bosnia. Helmut estava lá na gare de Viena, mesmo fora de hora, levou-nos ao seu apartamento e apoiou-nos no embarque para Budapest, nossa próxima escala.
Sou extremamente grato ao casal Barbara e Helmut Pflügl, que aparecem nas fotos, ela em frente ao Bioskop dos arquivos austríacos e ele mostrando-me um vídeo de futebol, sua paixão. Na outra ilustração: “Fussball im Film”, um dos textos do amigo austríaco, exemplar profissional cuja vida é dedicada à memória do cinema e singularmente apaixonado pelo nosso futebol. Nosso abraço à distância aos Pflügl. Até próximo reencontro.


O Reino das Fadas - de Méliès


"O Reino das Fadas" (Royaume des Fées), realização de 1903, exibida em Fortaleza, no Theatro João Caetano pela Empresa Bioscope, no dia 3 de março de 1906, em cópia colorizada, foi um dos sucessos de Georges Méliès.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009








Inicialmente, algumas lembranças dos caminhos trilhados na pesquisa do cinema.
Em Paris, no início da década de 60, fui freqüentador da Cinemathéque Française, assistindo quase que diariamente suas três sessões noturnas, ressaltando os clássicos do cinema mudo... A França, em sucessivos retornos, ofereceu-me sempre valiosas fontes de informação. E revelou amigos como o historiador de cinema Henri Bousquet, autor de dezenas de livros sobre a produção pioneira da Pathé Frères, que cativou pela mais fraterna e motivadora acolhida.
Se tivesse de eleger um vulto digno da homenagem inicial, não hesitaria de apontar GEORGES MÉLIÈS, inconteste criador do espetáculo cinematográfico. A ele devemos deslumbrantes vistas que percorreram o mundo pelas mãos dos exibidores ambulantes. Detentor de glórias entre 1896 e 1910, empobrecido nas décadas de 20 e 30, seu túmulo no cemitério Père-Lachaise, oculta-se no esquecimento... Na foto de minha última visita, apenas abandono e um ramo ressequido...




Vamos falar de cinema...

Inicio 2009 com alguns problemas e novos planos. O antigo site Memória do Cinema perdeu em dezembro o seu hospedeiro e exigiu algumas medidas urgentes. Apesar de viagem ao Rio de Janeiro, para as festas de fim de ano, a busca das soluções ficou a cargo da amiga Professora Carla. Formalizamos o domínio para o novo site e um novo hospedeiro, o que permitiu a transposição do site para um novo endereço: http://www.memoriadocinema.com.br/ Nos próximos meses vamos revê-lo e ampliá-lo.

Depois, surgiu a idéia de um blog, voltado para os temas do cinema, em suas origens e anos dourados do século passado. O primeiro passo devo à minha afilhada, escritora Socorro Acioli, que registrou o blog. Durante a viagem, a Carla tomou a iniciativa de formatar com textos retirados do antigo site. Meus agradecimentos pela ajuda.

Agora, descubro tempo para dar início ao blog Memória do Cinema, suprimindo os textos experimentais e postando as primeiras mensagens, ainda no aprendizado do processo. São os primeiros passos do blog em que - Vamos falar de Cinema - lembrando o antigo programa que produzi na Rádio Iracema, a partir de 1953, com locução sóbria do amigo Carlos Alberto, e muitos colaboradores como então crítico Tarcísio Tavares...